O Rio Innovation Week (RIW), considerado o maior evento de inovação dos últimos tempos na América Latina, foi realizado no Jockey Club Brasileiro, entre os dias 13 a 16 de janeiro de 2022. Contando com com 500 palestrantes, 1.000 startups e 190 expositores, que se dividiram por 19 palcos em 40.000 m2 para discutir a inovação no mundo, o evento mobilizou milhares de pessoas.
A Fase 10, convidada a realizar o segmento de arte, tecnologia e acessibilidade, criou o “Reinventando os Sentidos”, com curadoria de Nelson Ricardo Martins e gestão de Lisiane Mutti. O projeto contou com uma exposição imersiva, através da técnica de computação gráfica do artista visual Xico Chaves e uma exposição da artista visual Eloá Carvalho, envolvendo impressão em 3D para deficientes visuais, uma vez que esta técnica permite que o visitante toque nas obras expostas
Em paralelo as exposições, foram convidados, pela curadoria, 9 palestrantes que ampliaram a proposta através de temáticas transversalizadoras.
REINVENTANDO OS SENTIDOS (texto curatorial)
Nelson Ricardo Martins
Os sentidos se fazem presentes em nossas vidas de muitas maneiras, dentre elas, através de metáforas, ao abrigo das artes, elucubrações filosóficas, pela apreensão do mundo. Uma pedra, por ser mineral, não possui vida, no entanto, o poeta lhe reserva lugar, subvertendo sua essência estática — “uma pedra no meio do caminho” *. A capacidade de abstração transforma o elemento em figura de linguagem para ilustrar situações envolvendo obstáculos.
Para o filósofo argelino Albert Camus, o homem, em sua trajetória terrena, ao buscar sentido para a existência, depara-se com uma realidade opressora representada pela religião e pela política. Nesse contexto, o sentido se modela pela revolta. Já os sentidos das percepções, ditados pelo sistema nervoso sensorial, são aqueles que forjam cartografias, desembocando em múltiplas trajetórias. São eles que definem a nossa relação com o mundo externo, pela visão, audição, olfato, paladar e tato.
“Reinventando os sentidos” propõe a dilatação da fruição sensorial com duas exposições individuas, realizadas no âmbito das artes visuais contemporâneas, campo constituído por várias linguagens, diluição das fronteiras, com desdobramentos nos diversos segmentos afetos a vida.
Quando imersos na obra “Órbita poética”, deparamo-nos com o repertório multimídia de Xico Chaves, através de poemas, objetos e múltiplos que cruzam o infinito sobre as nossas cabeças, embalados por fragmentos eletroacústicos. O artista ressignifica um segmento importante de sua trajetória, iniciada na década de 1970, usando a computação gráfica. Cria movimentos com elementos antes estáticos, dando-lhes outras dimensões perceptivas.
Eloá Carvalho apresenta algumas de suas pinturas que fluem da tela, cristalizando o instante. Sua obra se caracteriza pela presença de personagens que se encontram imersos em suas particularidades. São momentos de mergulho, reflexão, leitura, exercícios de singularidade. Esse conjunto ganha relevo, por intermédio da impressão 3D, expandindo sua apreensão, na medida em que possibilita, sobretudo para deficientes visuais, o entendimento do conteúdo pelo tato. Dessa maneira, o gesto expresso no suporte é continuamente revisitado por infinitos caminhos.
Vivemos em um mundo pouco afeito às interfaces abstratas, reduzindo a arquitetura da existência a palafitas. Há sentido viver uma vida sem transversalizar? Apenas uma pergunta para ser respondida, se possível, após o percurso pelas exposições aqui apresentadas. Através do entrelaçamento entre arte e tecnologia, busca-se alcançar o sensível como eixo, expresso no manejo do experimental. No entanto, faz-se fundamental compreender que a tecnologia no âmbito das artes se constitui em mais uma possibilidade, sendo redutor entendê-la como um fim em si mesma.
* Poema de Carlos Drummond de Andrade
PALESTRAS
Alexandre Fenerich
Caminhar e escutar: práticas intensivas e contínuas de estar na cidade a partir de dispositivos de escuta
A palestra parte da proposição de Milton Santos da lentidão enquanto modo de deslocamento no espaço urbano - velocidade dos pés em oposição à troca instantânea de capitais e informação na era do capitalismo digital. Este deslocamento propõe uma colocação intensiva do corpo na cidade, com o qual traçamos paralelo com uma certa escuta contínua e atenta do tecido urbano. A partir destas ideias, faremos um percurso por trabalhos sonoros e musicais do autor que abordam a caminhada e a escuta a partir do uso de microfones binaurais, que transduzem a imagem da escuta do caminhante e consistem em dispositivos discretos, que não evidenciam o ato de gravar.
Analu Cunha
Amor, ginga, disritmia
O audiovisual ganhou destaque na rotina das relações pessoais e profissionais, processo acentuado durante a pandemia: diariamente, nos relacionamos em ligações de vídeo, lives e reuniões remotas. As relações interpessoais são, necessariamente, mediadas por telas. Considerando que todo poder impõe um ritmo, cabe observar à quais cadências estamos submetidos e investigar imagens que possam nos oferecer compassos desencontrados à velocidade neoliberal, que levem em conta a apatia, a convulsão e os beijos apaixonados.
Denise Garcia
Sustentabilidade emocional no mundo tecnológico - Encontrando estabilidade interior em tempos transformacionais
Debate sobre a velocidade das mudanças na era 4.0; o impacto do estresse na produtividade, criatividade e inovação; os desafios do mundo do trabalho; sustentabilidade emocional num mundo que não para de mudar; fontes de energia e maestria pessoal; natureza da mente e a ciência da respiração; gestão da mente para uma liderança ágil.
Emanuel de Jesus (Manu)
Arte desabilitada, tecnologia, educação e acessibilidade
Como construir formas de identificar e combater o visocentrismo estrutural a partir de quem utiliza os outros sentidos na periferia da visão? E como a periferia pode ser central em enxergar novas possibilidades espaciais, através de indagações à Liberdade, que só existe como estátua no centro de Vila Kennedy?
A neurodiversidade, a coexistência versus empatia, a abstenção de rótulos e a despadronização são pontos de ligação entre esses dois universos.
"Uma hora, todo mundo vai perceber que é neurodiverso.”
Manu traz para essa palestra parte de sua trajetória enquanto curador e artista de disability art e pessoa com deficiência, nascido e criado em Vila Kennedy, zona oeste do Rio de Janeiro.
Franz Manata
Mercado de arte, tecnologia e o impacto dos NFTs
Em uma abordagem descomplicada e direta, o autor mostra o vínculo indissociável entre: arte, mercado e tecnologia e nos apresenta os desafios enfrentados pelos artistas e o mercado de arte no contexto da economia da informação, após o impacto da chegada dos NFTs.
Malu Fragoso
Arte e Novos Organismos
Desde 2010, o NANO - Núcleo de Arte e Novos Organismos, laboratório de pesquisa em arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem desenvolvendo um corpo consistente de trabalhos, teóricos e práticos, na intersecção da arte, ciência, tecnologia e natureza. Essas obras, que abrangem uma zona permeável entre a vida orgânica e a artificial, incluindo plantas, abelhas, bactérias e robôs, são inspiradas na natureza e em modelos de pensamento que vão do conhecimento artístico, científico em diálogo com conhecimentos tradicionais. Nesta palestra Malu apresenta exemplos de produção artística realizada no NANO enquanto abordo temas como transculturalismo, sustentabilidade, e arte na contemporaneidade.
Vinícius Hashirama
Batendo palmas para a tela do computador: criando um show virtual que funciona de verdade
Em sua fala, Vinícius abordará sobre um projeto inovador que vem desenvolvendo: um show virtual em livestream e com interações dinâmicas em tempo real com os espectadores. Elementos visuais que interagem com a música que está sendo tocada e efeitos e elementos visuais gerados pelas pessoas que estão assistindo.
Thales Leite
Desconstruindo o Projeto Área 91
Thales Leite fala sobre questões envolvendo a concretização de uma exposição, com todos os aspectos relacionados a este ato, como a criação das obras e a instalação no espaço expositivo; interface conceitual com a curadoria; montagem e relação com o publico.
Abordará, ainda, o deslocamento do projeto para a publicação de um livro. O Área 91 , pesquisa do artista sobre o movimento Tecno-Brega, em Belém (PA), foi apresentado no Oi Futuro Ipanema em 2014, com curadoria de Marisa Flórido Cesar e realização da Fase10 ação contemporânea. O livro da exposição foi editado pela Editora F10.
Xico Chaves
Órbita Poética
O artista multimídias falará sobre o processo evolutivo da tecnologia digital nas artes visuais contemporâneas no Brasil.
CRÉDITOS
Curadoria: Nelson Ricardo Martins
Idealização: Lisiane Mutti e Nelson Ricardo Martins
Assistente de curadoria: Lu Frazão
Produção: Luiza Martelote
Marketing Digital: Dani Vieira
Consultoria Projeção: Nova Mídia
Impressão 3D: Triddo
Acabamento e Finalização: Marcelo Fernandes Camillo
Iluminação: Art e Luz
Cenotécnica: KBedim Montagem e Produção cultural
Design: Lu Martins
Sinalização: Ginga Design
Fotografia: Thales Leite
Molduras: Moldurax
Impressão em Braille: Fundação Dorina
Apresentação das palestras: Lu Frazão